segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ana Célia, vermelha

Vou contar tudo que sei sobre o caso Ana Célia. Tudo bem explicado para não haver dúvida.
Ela pedalava a bicicleta enferrujada, que rangia quando o pé direito chegava à parte mais perto do chão. Seu cabelo era tão ruivo e despenteado que parecia dia em cima de sua cabeça. O resto todo era noite: a igreja no fundo com a luz acesa na porta de madeira da altura de dois homens grandinhos, a loja já fechada que de dia vendeu dez pares de sapato, duas meias e uma carteira, a janela do quarto no qual Gigia, filha do Seu Jorge, já havia dormido com dois homens naquela noite e o banco da praça que tinha uma tábua solta que quase fazia quem sentava nele cair.
Parou de pedalar quando chegou à casa de João Victor. Pressionou a campainha com o dedão por quatro segundos e esperou com mão para trás. Depois de outros três segundos começou a ouvir os passos de João chegando. Quando ele abriu a porta, sete tiros de olhos cerrados. Um no peito, dois no braço direito, um na barriga, dois nas pernas e um no batente da porta.