quinta-feira, 18 de abril de 2013

ASSASSINO!


calor. o sol fritava formigas na grama.... os pássaros voavam sem ossos nas asas.... todas as pálpebras estavam pela metade.... as pás do moinho bocejavam.... um homem deitado na grama apoiado em uma pedra.... suas pernas emadeiradas.... um pedaço de palha já irritado por ser tanto mascado....  sua testa molhada de suor.... uma gota não tem força para se segurar e pinga de sua sobrancelha no bolso da camisa, que também se irrita.... o homem tem uma carabina que descansa em suas mãos.... ele levanta o chapéu sem pressa.... levanta a caribina devagar e aponta pro céu.... o céu.... metade do céu fica preta e a outra mais focada, o homem fechou um olho.... ele procura os pássaros gordos.... acha um e o acompanha de longe.... le   n   ta    m   e    nt    e.... e desiste.... acha outro.... o acompanha.... também desiste..... acha um bem gordo.... o acompanha.... não pode ir rápido para não o ultrapassar.... nem devagar demais para não o perder.... na medida.... e mira.... o homem tira o dedo do gatilho.... e faz o movimento de apertá-lo no ar.... com a boca faz “ptchíuuu”.... abaixa a carabina.... respira.... a 
 b
 a
 i
 x
 a    o    c  h  a  p  é  u....  b   o   c         e          j    a....
 c                        o                           c                         h                            i                        l                     a         .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. acorda.... passa a mão na testa suada.... funga.... levanta a carabina de novo.... aponta para o céu....  o céu.... metade do céu fica preta e a outra mais focada, o homem fechou um olho.... ele procura os pássaros gordos.... acha um e o acompanha de longe.... le  n  ta   m  e   nt    e.... e desiste.... acha outro.... o acompanha.... também desiste.... acha um bem gordo.... o acompanha.... não pode ir rápido para não o ultrapassar.... nem devagar demaQuando surgem atrás do pássaro uma multidão de cores, como um arco-íris mais vívido, mais saudável, bem alimentado, AS CORES BERRAM! É lindo demais! O homem se anima e PTCHÍUU! Atirou.... o balão cai lentamente.... riscando o céu.... chega ao chão.... e as dez pessoas dentro dele morrem.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

CADARÇOS


estávamos no parque, numa segunda fria. não tinha mais ninguém lá, só aquelas árvores com folhas amarelas. só nós dois. eu te abraçava, mas não com carinho. quer dizer, não só com carinho. se alguém olhasse com atenção veria que seus pés estavam fora do chão. na verdade eu estava segurando seu corpo. puxando-a pra baixo. mas não adiantava, seu corpo cada vez mais se forçava a subir, escorrendo e meus braços fracos já não aguentavam mais. te abraçando já pela cintura comecei a te imaginar indo embora pra sempre, as pernas passando pelos meus braços, as canelas finas, o tênis vermelho. não sei porque pensei nos cadarços roçando nos meus dedos. acho que é porque me lembrei de como você gostava da palavra cadarços. CADARÇOS. palavra engraçada mesmo. acho que é porque o erre ali no meio te faz fazer arr, tipo um leão, ou porque tem um cedilha ao invés de um s, como em arsênio ou varsóvia, seilá. enquanto fiquei pensando nisso seu corpo foi escorregando e só conseguia abraçar seus pés, na altura do meu rosto. meu nariz amassado e a boca torta. e tive uma ideia, te amarrar pelo cadarço. torto e desengonçado, dobrei a perna, tirei meu tênis, dei um nó em nossos cadarços e calcei o meu tênis com a mão. fomos, voando por cima do parque, pra sempre. separados, mas juntos. comigo a seus pés.