domingo, 2 de junho de 2013

o futuro

saber que fui mais feliz me fazia mais feliz. lembrar. no alto de minha precoce velhice -chegou aos trinta- , comecei a olhar lá embaixo e ver aqueles trinta anos passando em um rio estranho, um rio onde a mesma água passa diversas vezes. pensava se não há um mar, mas não. o rio só segue. a água dá a volta no globo e passa de novo embaixo de minha velhice. é a mesma linha, na qual não caberia uma vida inteira. só trinta anos. infinitos. No sexto ano de contemplação olhando para baixo, um desvio. minha companheira, que passa lá embaixo no rio também está aqui em cima, e me chama a atenção com um assovio. olho para trás e lá está ela. é bonita. mas é bonita lá embaixo. penso, mas não consigo saber onde é mais bonita; com a incidência perfeita dos raios solares lá embaixo, ou aqui em cima, mais perto, com os raios ofuscando alguns desconhecimentos. não importa. tiro o olho do rosto e abaixo o olhar. debaixo dos seios perfeitos, uma barriga estufada. percebo quase instintivamente que nessa barriga há dedos, mãos, olhos, pernas, coração. me emociono. lembro novamente e fico ansioso. olho para baixo. percebo então que de meu rio há um outro, nascendo do meu. um mínimo rasgo de ângulo que oferece à agua outro caminho. rapidamente minha cabeça treinada pensa no infinito, em padrões e projeta a infinidade de rios com rasgos de ângulos. crio, então, um globo inteiro, lotado de meridianos e paralelos, linhas de vida que se cruzam incansavelmente. meu rio é intercortado por outros e não é mais possível saber que água é de meu rio. olho de volta para minha companheira e nossa barriga e, forçando, envergo minha coluna antes tombada para baixo. consigo olhar para cima.